terça-feira, 30 de outubro de 2012

Relatos das torturas ainda em anonimato.

O depoimento pessoal de Dilma Rouseff que 30 anos depois de sofrer tortura em Juiz de Fora seria eleita presidente do Brasil, é apenas uma parte num conjunto de 916 peças de horror que estavam até agora esquecidas na última sala do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG). Nesse meio de barbárie e agonias não tem protagonistas. São histórias de centenas de militantes políticos de Minas torturados na frente de seus bebês, homens casados que se tornaram estéreis por levar choques nos órgãos genitais e mulheres que seriam violadas no anonimato das celas pelos seus algozes.
Uma das técnicas mais sádicas de tortura era a da latinha. Os torturadores arrancavam as roupas das pessoas e deixavam elas completamente nuas. Depois, as colocavam descalças em cima de duas latinhas abertas, como a de salsicha, com as bordas afundando no pé. Essas pessoas tinham que aguentar até não poder mais. Se caíssem ou descessem, eram espancados. Era um tipo de crueldade abaixo do nível humano.
Umas das 53 pessoas indenizadas em 2002 foi Gilse Westin Cosenza, que foi presa aos 25 anos quando era vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUC Minas. Ela foi vítima não da violência física mas sim de ameaça psicológica, que era usada principalmente com mães ou grávidas. Tratava-se de colocar uma criança engatinhando em cima de uma mesa pra forçar a "confissão" da torturada. Caso ela não falasse, o torturados avisava que a criança poderia cair. "Manusearam meu corpo, torceram o bico dos meus seios e enfiaram a mão em mim. Um dia, eu estava arrebentada depois de ter sido torturada das 19hs até as 5hs da manhã quando fui estuprada pelo sargento Leo, da PM" conta Gilse.
No longo período em que permaneceu presa, ela não apenas não enlouqueceu, como também nunca desistiu de lutar pela volta da democracia no Brasil. "Sou privilegiada. Muitos ficaram afetados psicologicamente pela tortura e nunca conseguiram se reerguer. Os torturadores ainda estão impunes. Jurei que enquanto estiver viva não vou parar de lutar por um país mais justo para nossos filhos."

Essas pessoas que torturavam as outras sem dó e nem piedade mereciam um castigo, não a morte, porque muitas vezes a morte não é dolorosa. Mas infelizmente muitos torturadores já morreram e não pagaram pelo que fizeram, outros estão vivos mas velhos. E quem sofreu tortura sempre vai carregar essa sede de justiça, que pelo menos não tão cedo será alcançada.

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