segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Globo e a defesa do regime de tortura no Brasil.

Em um depoimento concedido a historiadores do CPDOC sobre sua trajetória no regime militar autoritário de 1964, o ex-presidente Ernesto Geisel admitiu a tortura como um meio necessário para a obtenção de confissões. O general reconheceu que "há circunstâncias em que o indivíduo é impelido a praticar a tortura para obter determinadas confissões, e assim, evitar um mal maior". A revelação de Geisel, o quarto general a exercer o poder após a deposição de presidente João Goulart, coloca em questão a imagem do dirigente militar comprometido com a legalidade e com a condenação dos excessos de violência praticados pelo aparato repressivo, sob controle da linha dura. Desse modo, se abre novas vias de pesquisas sobre um dos períodos mais sombrios da história republicana brasileira no século XX. Ressurgem as polêmicas sobre os papéis desempenhados pelos grupos militares na organização do regime.
Se não devemos diluir completamente as fronteiras entre os grupos que tinham influência na direção do Estado, é preciso repensar suas relações levando em conta que a longa duração do regime exige a ênfaase na complementaridade dos papéis por eles desempenhados. Poderíamos supor, por exemplo, que no governo Geisel, as prisões, torturas e mortes de dirigentes do PCB ocorridas entre 1973 e 1976, partido ao qual os dirigentes militares atribuíram influência na vitória do MDB nas eleições em novembro de 1974, fizeram parte de uma longa e planejada ação, contando com anuência da cúpula do poder. Nessa linha de interpretação se coloca também a ação repressiva que culminou no Massacre da Lapa, com a morte de dirigentes do PCdoB em dezembro de 1976, quando o II Exército estava sob o comando do general Dilermando Gomes Monteiro, considerado moderado e íntimo colaborador de Geisel. O mesmo raciocínio não poderia ser aplicado as mortes do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, e do metalúrgico sindicalista Manoel Fiel Filho, em janeiro de 1976, compreendidas mais como provocações do aparato repressivo, ficando a responsabilidade restrita aos oficiais do II Exército, sob o comando do general Ednardo d'Ávila.

sábado, 10 de novembro de 2012

Grupo Tortura Nunca Mais.

O Grupo Tortura Nunca Mais foi fundado em 1985 por iniciativa de ex-presos políticos que viveram situações de tortura durante o regime militar e por familiares de mortos e desaparecidos políticos e se tornou através de lutas em defesa dos direitos humanos de que tem participado e desenvolvido uma referência importante no cenário nacional. Já que o regime contribuiu decisivamente para o esgarçamento e a deterioração de valores éticos, o Grupo se constituiu em torno do resgate de valores, da dignidade, da defesa e dos direitos da cidadania. Com isso, tem assumido um compromisso na luta pelos direitos humanos, pelo esclarecimento das circunstâncias de morte e desaparecimento de militantes políticos, pelo resgate da memória histórica, pelo afastamento imediato de cargos públicos das pessoas envolvidas com a tortura, pela formação de uma consciência ética, convicto de que estas são condições indispensáveis na luta hoje contra a impunidade e pela justiça.
O Grupo tem denunciado antigos e novos casos de tortura, exigindo punição para aqueles que violam os direitos humanos, através de notas na mídia, entrevistas, atos públicos, seminários e outras atividades. O Grupo conseguiu também que torturadores foram afastados de cargos públicos, profissionais de saúde no Rio de Janeiro e São Paulo que colaboraram com práticas de tortura, como médicos que emitiram laudos falsos, tiveram seus registros cassados e foram impedidos de exercer suas atividades profissionais.

Os principais objetivos do Grupo são:

- lutar contra toda e qualquer violação dos direitos humanos
- dar apoio e solidariedade as pessoas que lutam pela causa dos direitos humanos no mundo
- intercambiar experiências e informações com entidades de direitos humanos nacionais e internacionais
- dar assistência a pessoas atingidas pela violência organizada
- trazer a história de nosso país durante o período de ditadura, esclarecendo as circunstâncias das prisões, torturas, mortes e desaparecimentos ocorridos naquele período.

Tudo isso e fora os nomes dos desaparecidos na ditadura militar e mais informações encontramos no site do grupo: http://www.torturanuncamais-rj.org.br/


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Linha Dura.

Os oficiais que lideraram o golpe de 1964 e permaneceram 21 anos no poder, justificaram  o regime militar como medida adequada para solucionar as crises de instabilidade governamental do período democrático-populista.
O governo Médici foi o auge da repressão mas também o auge da resistência. Médici era conhecido como general linha dura.
O aspecto mais desumano e cruel da repressão policial-militar foi o emprego da tortura como método pra eliminar e neutralizar qualquer forma de oposição e subversão ao governo dos generais. Diversos instrumentos e técnicas de castigos corporais e psicológicos faziam parte dos métodos de ação dos agentes dos órgãos de repressão.
Os governos militares negavam categoricamente a prática da tortura, mas ela era sistematicamente utilizada como método pra extrair confissões dos acusados ou suspeitos de subversão.
A tortura foi institucionalizada no Brasil pela ditadura militar. Era uma prática revestida de grande sofisticação. Existiam instalações e equipamentos apropriados pra esse fim, além de pessoal rigorosamente treinado que aplicava a tortura. Foi justamente durante o governo Médici que foram registrados os maiores índices de emprego da tortura.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Comissão da Verdade.

Nesse ano o Governo Federal nomeou um grupo de juristas e professores incumbidos de integrar a chamada Comissão da Verdade. Essa Comissão tem o objetivo de realizar investigações sobre os vários crimes cometidos pelo Estado brasileiro entre os anos de 1937 e 1985. Há o interesse especial em buscar os crimes que aconteceram nos dois regimes ditatoriais desse período: o Estado Novo, criado no governo de Getúlio Vargas entre 1937 e 1945 e a Ditadura Militar, ocorrida entre 1964 e 1985.
A importância dessa ação se concentra  em revelar vários incidentes de abuso de poder onde agentes que representavam o governo promoveram prisões, torturas e mortes que contrariavam o respeito aos direitos humanos e a constituição de uma cultura democrática no país. Pra isso, uma série de arquivos mantidos sob sigilo serão consultados e nomes envolvidos em tais incidentes serão chamados com o intuito de depor nessa mesma comissão.
Ao contrário do que alguns sugerem, a Comissão da Verdade não terá poderes pra realizar processos criminais contra as pessoas que comprovadamente cometeram algum tipo de crime dessa natureza. Tal poder punitivo, principalmente no que se refere aos fatos ocorridos na Ditadura Militar, não existirá porque no ano de 1979, o governo brasileiro assinou a Lei da Anistia, que concedeu perdão aos militares e militantes de esquerda.
Segundo algumas estimativas, a Comissão da Verdade terá a missão de cumprir a investigação de mil crimes acontecidos nessa época. Mesmo não tendo a função punitiva, a Comissão será bastante importante pra revelar uma série de ações que marcaram essa época. A partir do trabalho da Comissão teremos a exposição pública de uma série de documentos que poderão aprofundar nossa compreensão sobre a história brasileira e reforçar as lutas que marcaram a consolidação do regime democrático em nosso país.

Integrantes da Comissão da Verdade.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Memorias de um torturador

O Advogado João Lucena Leal chociu o Brasil com o depoimento sobre torturas e mortes das quais ele próprio participou. Ele revelou ter presenciado de 10 a 15 execuções e participado de operações que resultaram na prisão da nossa Presidente Dilma Rousseff.
Com um depoimento frio o tempo todo sobre mortes e torturas durante o regime militar, Lucena falou também sobre o estudante José Genoíno, que viria a ser presidente nacional do Partido dos Trabalhadores e atualmente é assessor do Ministério da Defesa. Segundo Lucena, Genoíno não precisou ser torturado. “Fez um acordo com o Exército e entregou, delatou todos os seus companheiros”, disse.
Essa entrevista aconteceu no Conexão Repórter, do SBT no fim do ano passado (2011). João é  considerado um dos maiores torturadores ainda vivos do tempo da repressão no Brasil .
Agente da repressão a serviço dos militares que tomaram o poder no País com o golpe de março de 1964, João Lucena Leal foi descrito como o típico homem dos porões da ditadura.
Na entrevista, Lucena descreveu, com tranqüilidade e frieza, o que viu e o que fez com os adversários políticos do regime. “O sujetio amarrado, algemado e o executor puxava o gatilho e matava”, disse ele ao narrar uma das cenas entre as inúmeras das quais presenciou e participou.
 
Tortura justificada
Para Lucena, a tortura se justifica “para extrair uma informação ardente”. Fazia parte de seu trabalho extrair tais informações dos ativistas políticos. “Eu executava com nobreza”, acrescentou.
Ex-delegado da Polícia Federal, Lucena também é descrito como um torturador profissional.
Mesmo acusado de cometer atrocidades, Lucena disse estar orgulhoso de tudo o que fez.
Com a saúde severamente abalada após um ataque cardíaco e acusado de ser um torturador impiedoso, mesmo assim o homem da repressão diz ter a consciência e um sono tranqüilos.  (* DUVIIIIIIIIIDO*)
Na entrevista, informou ter apenas um remorso. Foi quando viu o corpo de uma moça de 17 anos morta pelos militares. “Peguei no corpo dela e ainda estava quente. A moça não tinha ideologia nenhuma”.
Em Rondônia, Lucena ficou rico como advogado de traficantes e de notórios assassinos, como o fazendeiro Darli Alves, que matou a tiros, no Acre, o líder seringueiro Chico Mendes.
Ao falar sobre o que considera tortura, Lucena disse que “é um ato de violência contra o próprio irmão”, e acrescenbtou :” a tortura é praticada em larga escala nas polícias militar e civil do País”.
Torturador perverso, segundo testemunhas
Mostrando profundo conhecimento no assunto, o advogado disse que, na sua época, o método mais utilizado era o pau de arara, nas suas palavras , “um instrumento cruel, devastador, que deixa seqüelas. Tem muita gente que não resiste meia hora e conta tudo. Às vezes, é só mostrar o instrumento e ele (a vítima) abre”.
 
As vítimas vivas de Lucena

O hoje professor José Auri Pinheiro, professor na época, foi torturado barbaramente por dois dias. Ele reconheceu Lucena durante a entrevista a Roberto Cabrini, que lhe mostrou uma foto do advogado quando ainda era mais novo. “O Lucena é um torturador conhecido aqui no Ceará. Em 1973 fui torturado por ele, que é um sujetio explosivo, impulsivo e malvado, que só falava em matar, em destruir as pessoas”, contou Auri. Segundo ele, Lucena torturava as vítimas ” com sadismo, com convicção”.
O hoje arquiteto José Tarcísio Prata foi outro que também relatou sua experiência dolorosa nas mãos desse homem. É um torturador profissional, perverso?, disse.
Lucena afirmou ter visto de dez a 15 execuções de guerrilheiros do PC do B no Araguaia, entre elas, a morte de uma jovem identificada por ele como Sônia, que foi assassinada pelo atualmente major reformado do Exércto Sebastião Curió.
No meio da entrevista, João Lucena disse que, no Araguaia, foi preso o então estudante José Genoíno, que viria a ser presidente do Partido dos Trabalhadores e atualmente é assessor do Ministério da Defesa.


O que mais me revolta é esse Homem, se é que se pode chamar ele disso, revelar isso tudo em rede nacional, falar pra quem ele sentir vontade e continuar nas ruas e livre.



terça-feira, 30 de outubro de 2012

Exemplo de vida.

Quando flagra uma manifestação na praça municipal de Teófilo Otoni, o ex-militante da causa operária Tim Garrocho, com autoridade que lhe concedem seus 82 anos, não consegue segurar. Ele se aproxima dos manifestantes, puxa um deles no canto pelo braço e diz: "Você pode até não saber disso mas ajudei vocês a estarem hoje reunidos aqui na praça". Tim é exemplo de vida para os filhos, netos e bisnetos. Segundo ele, o operário que mais apanhou em Minas foi Porfírio Francisco de Souza. "Eu o vi entrando na prisão, ainda forte, e no final, irreconhecível" afirma.
Porfírio, militante do extinto PCB , morreu em 2004 em Montes Claros, aos 84 anos. "Além de choques elétricos e ter levado no pau de arara, ele sofreu com agulhadas nos dedos entre as unhas. Chegaram até a arrancar as unhas dele na sede do antigo Dops, em BH, em 1969, logo depois do AI-5", conta o aposentado e ex-soldado da PM Aran Francisco de Matos, sobrinho do ex-militante.
"Aquela cambada não respeitava ninguém. Em Governador Valadares, quebraram meu braço esquerdo e me chutaram até eu vomitar sangue", revela Tim sem esconder raiva. "Meu torturador era Klinger Sobreira de Almeida, que na época era tenente em Valadares. Antes de bater, ele tirava o relógio, para não se machucar. Não me esqueço disso."
Tim, ex-líder sindical, que antes de ser preso chegou a ter 3 mandatos de vereador. "Depois do golpe, não pude crescer politicamente. Eles me liquidaram, minha esposa ficou adoentada e eu tive que vender muita coisa para me sustentar. Hoje não tenho aposentadoria, pois não consegui comprovar meus direitos políticos" afirma.

Relatos das torturas ainda em anonimato.

O depoimento pessoal de Dilma Rouseff que 30 anos depois de sofrer tortura em Juiz de Fora seria eleita presidente do Brasil, é apenas uma parte num conjunto de 916 peças de horror que estavam até agora esquecidas na última sala do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG). Nesse meio de barbárie e agonias não tem protagonistas. São histórias de centenas de militantes políticos de Minas torturados na frente de seus bebês, homens casados que se tornaram estéreis por levar choques nos órgãos genitais e mulheres que seriam violadas no anonimato das celas pelos seus algozes.
Uma das técnicas mais sádicas de tortura era a da latinha. Os torturadores arrancavam as roupas das pessoas e deixavam elas completamente nuas. Depois, as colocavam descalças em cima de duas latinhas abertas, como a de salsicha, com as bordas afundando no pé. Essas pessoas tinham que aguentar até não poder mais. Se caíssem ou descessem, eram espancados. Era um tipo de crueldade abaixo do nível humano.
Umas das 53 pessoas indenizadas em 2002 foi Gilse Westin Cosenza, que foi presa aos 25 anos quando era vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUC Minas. Ela foi vítima não da violência física mas sim de ameaça psicológica, que era usada principalmente com mães ou grávidas. Tratava-se de colocar uma criança engatinhando em cima de uma mesa pra forçar a "confissão" da torturada. Caso ela não falasse, o torturados avisava que a criança poderia cair. "Manusearam meu corpo, torceram o bico dos meus seios e enfiaram a mão em mim. Um dia, eu estava arrebentada depois de ter sido torturada das 19hs até as 5hs da manhã quando fui estuprada pelo sargento Leo, da PM" conta Gilse.
No longo período em que permaneceu presa, ela não apenas não enlouqueceu, como também nunca desistiu de lutar pela volta da democracia no Brasil. "Sou privilegiada. Muitos ficaram afetados psicologicamente pela tortura e nunca conseguiram se reerguer. Os torturadores ainda estão impunes. Jurei que enquanto estiver viva não vou parar de lutar por um país mais justo para nossos filhos."

Essas pessoas que torturavam as outras sem dó e nem piedade mereciam um castigo, não a morte, porque muitas vezes a morte não é dolorosa. Mas infelizmente muitos torturadores já morreram e não pagaram pelo que fizeram, outros estão vivos mas velhos. E quem sofreu tortura sempre vai carregar essa sede de justiça, que pelo menos não tão cedo será alcançada.

Mulheres torturadas

 
Cheguei na Oban e a violência começou no interrogatório, com choque elétrico. Quando eu vi o pau de arara, não reconheci o que era porque estava em choque. Vi um copo cheio de uma substância branca e achei que era açúcar, para tomar com água na hora do nervoso. Mas era sal, para pôr nas feridas. Eles faziam piadas sobre o corpo das mulheres, se era feio, jovem, velho, gozavam dos defeitos. Era uma mesquinharia muito grande. Eles abusam, violentam, de uma maneira ou outra, humilham, tornam objeto. Eles faziam a gente se sentir uma porcaria. Também faziam uma certa gozação, como se eu tivesse me metido nisso sem saber o que era. Eles tinham muito prazer na tortura. Não me pareceu que eles faziam por obrigação. Havia o Ustra [coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra], que era o mais terrível, porque vinha com uma conversinha, com uma diplomacia: ‘Minha filha, como você vai se meter numa coisa dessas, você é de uma família boa, vai prejudicar os seus filhos por essa coisa de comunismo’. E, de repente, inesperadamente, ele lançava uma bofetada. Uma vez, o torturador “Jesus Cristo” [codinome do delegado de polícia Dirceu Gravina] saiu de um interrogatório e foi para o meu. Ele estava muito nervoso e falou: ‘Você é psicóloga, né, acho que vou precisar do seu auxílio. Eu estou descontrolado, chego em casa e arrebento tudo, bato na minha mulher’. Depois da Oban, fui para o Dops e para o Tiradentes, onde a coisa foi ficando mais de tortura psicológica e não física. Mas sempre com aquele horror de saber que a qualquer momento a gente poderia voltar para a Oban.
LÚCIA COELHO, ex-militante do Partido Operário Comunista (POC), era professora da Faculdade de Medicina da USP quando foi presa em 15 de julho de 1971, em São Paulo (SP), juntamente com seu marido Ruy Coelho, vice-diretor da Faculdade de Filosofia da USP. Hoje, vive na mesma cidade, é psicóloga e presidente da Sociedade Rorschach de São Paulo.
 
Muitos deles vinham assistir para aprender a torturar. E lá estava eu, uma mulher franzina no meio daqueles homens alucinados, que quase babavam. Hoje, eu ainda vejo a cara dessas pessoas, são lembranças muito fortes. Eu vejo a cara do estuprador. Era uma cara redonda. Era um homem gordo, que me dava choques na vagina e dizia: ‘Você vai parir eletricidade’. Depois disso, me estuprou ali mesmo. Levei muitos murros, pontapés, passei por um corredor polonês. Fiquei um tempão amarrada num banco, com a cabeça solta e levando choques nos dedos dos pés e das mãos. Para aumentar a carga dos choques, eles usavam uma televisão, mudando de canal, ‘telefone’, velas acesas, agulhas e pingos de água no nariz, que é o único trauma que permaneceu até hoje. Em todas as vezes em que eu era pendurada, eu ficava nua, amarrada pelos pés, de cabeça para baixo, enquanto davam choques na minha vagina, boca, língua, olhos, narinas. Tinha um bastão com dois pontinhos que eles punham muito nos seios. E jogavam água para o choque fi car mais forte, além de muita porrada. O estupro foi nos primeiros dias, o que foi terrível para mim. Eu tinha de lutar muito para continuar resistindo. Felizmente, eu consegui. Só que eu não perco a imagem do homem. É uma cena ainda muito presente. Depois do estupro, houve uma pequena trégua, porque eu estava desfalecida. Eles tinham aplicado uma injeção de pentotal, que chamavam de ‘soro da verdade’, e eu estava muito zonza. Eles tiveram muito ódio de mim porque diziam que eu era macho de aguentar. Perguntavam quem era meu professor de ioga, porque, como eu estava aguentando muito a tortura, na cabeça deles eu devia fazer ioga. Me tratavam de ‘puta’, ‘ordinária’. Me tratavam como uma pessoa completamente desumana. Eu também os enfrentei muito. Com certa tranquilidade, eu dizia que eles eram seres anormais, que faziam parte de uma engrenagem podre. Eu me sentia fortalecida com isso, me achava com a moral mais alta.
DULCE MAIA, ex-militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), era produtora cultural quando foi presa na madrugada de 26 de janeiro de 1969, em São Paulo (SP).Hoje, vive em Cunha (SP), é ambientalista, dirige a ONG Ecosenso e é cogestora do Parque Nacional da Serra da Bocaina.
 
Ele me disse: ‘Se você sair viva daqui, o que não vai acontecer, você pode me procurar no futuro. Eu sou o chefe, sou o Jesus Cristo [codinome do delegado de polícia Dirceu Gravina]’. Ele falava isso e virava a manivela para me dar choque. Ele também dizia: ‘Que militante de direitos humanos coisa nenhuma, nada disso, vocês estão envolvidos’. E virava a manivela. Havia umas ameaças assim: ‘Vamos prender todos os advogados de direitos humanos, colocá-los num avião e soltar na Amazônia’. Nos outros interrogatórios, eles perguntavam qual era a minha opção política, o que eu pensava, quem pagava os meus honorários, quais eram os meus contatos no exterior, o que eu pensava do comunismo. Para mim, fi cou muito claro que eles queriam atemorizar advogado de preso político. Havia uma mudança no tom das equipes. Eram três, e ia piorando. Durante o interrogatório da segunda equipe, eu levei uma bofetada de um e o outro me segurou: ‘Está bravinha porque levou uma bofetada?’. E os homens da terceira equipe diziam: ‘Saia disso, onde já se viu defender esses caras, gente perigosíssima, não se meta nisso!’. Eu estava formada havia menos de um ano, e trabalhava desde o segundo ano no escritório do advogado José Carlos Dias, defendendo presos políticos. Essa era a forma que eu tinha de resistir à ditadura militar, foi minha opção de participação na resistência. Eu fui presa sem nenhuma acusação, fiquei três dias lá sem saber porque estava presa. No terceiro ou quarto dia, eu descobri o motivo: teriam achado num ‘aparelho’ um manuscrito do Carlos Eduardo Pires Fleury, que tinha sido banido do país e que foi meu colega e cliente no escritório. Eu não fui das mais torturadas. Levei choque uma manhã inteira, acho que para saber se eu tinha algum envolvimento com alguma organização clandestina e paraque os advogados soubessem que não era fácil para quem militava.
MARIA LUIZA FLORES DA CUNHA BIERRENBACH era advogada de presos políticos quando foi presa em 8 de novembro de 1971, em São Paulo (SP). Hoje, vive na mesma cidade, onde é procuradora do Estado aposentada.
 
Essas mulhers tiveram de forma individual a sua maneira de resistir a ditadura, e por isso, sofreram torturas. Eu coloquei aqui aquelas que mais "gostei", as que mais me falaram alguma coisa, é dificil, pois existem tantos depoimentos que é muito triste de ver, e ler.
 
 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Relatos de terror

Um documento foi encontrado no acervo de Prestes com 233 nomes de torturadores. Além disso, encontraram descrições de sequestros, falsos suicídios e ligações de grupos paramilitares clandestinos com milícias argentinas.
O documento começa contando casos de militantes que desapareceram misteriosamente, mas no ano de 1976  as táticas tinham mudado. Até então, a vítima comparecia aos órgãos de repressão antes de "desaparecer", mas a partir daquele ano, os militantes não seriam mais vistos por outros presos, fazendo crer que tenham sido torturados em endereços diferentes não conhecidos pela opinião pública nacional.
 Um exemplo é que em 1975, um jornalista, depois de ter sido preso e torturado, resolveu denunciar à imprensa os maus tratos que tinha sofrido.Alguns dias depois, recebeu uma carta intitulada como " braço clandestino de repressão" contendo uma série de ameaças a ele e sua família, incluindo um aviso: " você é um, nós somos milhares". A suspeita, segundo os autores do relatório, é de que o tal grupo de extermínio, tinha ligações com a sanguinária Aliança Anticomunista Argentina (AAA).
Os autores do documento contam que venceram "obstáculos aparentemente intransponíveis" ao conseguirem se reunir pela quarta vez em quatro anos. A primeira reunião foi em fevereiro de 1973, quando elaboraram o primeiro relatório constando 28 casos de presos políticos assassinados sob tortura, descrevendo os casos minuciosamente. A segunda, no ano seguinte, contou com revelações de "elementos vinculados profissionalmente à maquina militar de sustentação do regime"- que, inclusive, ajudaram a levantar o nome dos primeiros torturadores. Já o terceiro relatório de 1975, fala das tentativas de camuflar as ações repressivas do regime, a partir de sequestros, assassinatos e desaparecimento de cadáveres.

In memorian

Vladimir Herzog foi uma entre várias vítmas das torturas cometidas contra presos políticos durante a ditadura militar de 1964. Como era frequente naquela época, a morte do jornalista foi divulgada como suicídio. Muitos foram os casos em que os prisioneiros morreram e desapareceram ou foram dados como mortos por outras causas e não pelas violências que sofreram. 

Em protesto ao jornal Folha de São Paulo, Latuff critica o jornal por chamar a ditadura militar brasileira de Ditabranda

sábado, 27 de outubro de 2012

Maiores torturas

Uma pesquisa coordenada pela Igreja Católica com documentos produzidos pelos próprios militares identificou mais de cem torturas usadas nos "anos de chumbo" (1964-1985). Contando com a "assessoria técnica" de militares americanos que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares começavam a agredir no momento da prisão, invadindo casas ou locais de trabalho.
Em 1969, a tortura teve seu período mais difícil no país, onde os principais tipos de tortura eram a Cadeira do Dragão  que era uma cadeira eletrizada onde os presos eram obrigados a sentar nela nus, e quando a eletricidade era ligada, eles levavam choques por todo o corpo.
Havia também a Geladeira  onde presos nus eram colocados em uma cela pequena, de forma que eles não pudessem ficar em pé. A temperatura do local era alternada entre muito fria e muito quente e muitas vezes, eles tinham que ficar lá por varios dias.
O Arrastamento pela viatura onde a vítima era amarrada no carro, sendo arrastada e obrigada a inalar o gás que saía pelo escapamento da viatura, também era uma técnica comum.
Por último e pra mim a pior era a Coroa-de-Cristo ou Capacete,  que era basicamente um anel metálico, colocado na cabeça do torturado, que tinha um mecanismo para diminuir seu tamanho, esmagando o crânio.
Ninguém acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar chegou a ser punido. Em 1979, o congresso aprovou a Lei da Anistia, que determinou que todos os envolvidos em crimes políticos incluindo os torturadores fossem perdoados pela Justiça.

Dilma Rousseff na Ditadura.

A presidente Dilma foi torturada na época da Ditadura em Juiz de Fora (MG), Rio de Janeiro e em São Paulo. Em Minas, ela foi colocada no pau de arara, apanhou de palmatória, levou choques e socos que causaram problemas graves na sua arcada dentária. Isso é o que revelam os documentos obtidos com exclusividade pelo Estado de Minas, que até então mofavam na última sala do Conselho dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG).
O depoimento de Dilma foi o único que mereceu uma cópia entre os mais de 700 processos de presos políticos mineiros analisados pelo Conedh-MG. No testemunho, ela relata todo o sofrimento vivido em Minas na pele da militante política de codinomes Estela, Stela, Vanda, Luíza, Mariza e Ana. Ela contava então com 22 anos e militava no setor estudantil do Comando de Libertação Nacional (Colina), que mais tarde se fundiria com a Vanguarda Popular Revolucionária, dando origem a VAR-Palmares.
As terríveis sessões de tortura enfrentadas pela então jovem estudante subversiva já foram ditas e repisadas ao longo dos últimos anos, mas relatos sempre se referiam ao eixo Rio-São Paulo, envolvendo a Operação Bandeirantes, a temida OBAN de São Paulo. Já o episódio da tortura sofrida em Minas, onde segundo ela própria exerceu 90% de sua militância durante da Ditadura, tinha ficado no esquecimento.
Dilma disse: "No início, não tinha rotina. Não se distinguia se era dia ou noite. Geralmente, o básico era o choque. E se o interrogatório fosse de longa duração, com interrogador experiente, ele te botava no pau de arara alguns momentos e depois levava para o choque, uma dor que não deixa rastro, só te mina. Muitas vezes usava a palmatória, usaram em mim muita palmatória."
Quando Dilma ficou presa possivelmente no quartel da Polícia do Exército, foi submetida a péssimas condições carcerárias, por dois meses. Nesse período foi mantida na clandestinidade e jogada numa cela, onde permaneceu na maior parte do tempo sozinha.
Pesquisando sobre as torturas que Dilma sofreu, e foram muitas, fiquei com pena. Ela sofreu uma coisa pior que a outra. Mesmo com ela tendo hemorragias no útero, ela sofreu tortura. E o fato dos dentes dela serem um pouco para fora foi por causa de ter levado socos no maxilar. Em um dos socos, o dente se deslocou e apodreceu. Um tempo depois disso, um capitão do DOI-Codi de São Paulo terminou o serviço. Deu um soco e o dente caiu.
Dilma ficou presa por 3 anos. Passou frio, fome, dor e solidão.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Em busca de uma justiça




Militares da reserva e policiais envolvidos comatos de tortura e outros abusos cometidos durante a ditadura militar no Brasil foram alvo de manifestações realizadas em seis cidades do país. Integrantes do Levante Popular da Juventude – movimento de jovens que surgiu há seis anos no Rio Grande do Sul e hoje tem representantes em todo país – levaram faixas e fizeram apitaços em frente às casas ou endereços de trabalho dos agentes do Estado, com o intuito de constrangê-los em função da participação deles em atos do regime. As ações ocorreram em Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza, Belém e Aracaju.
Os manifestantes chamam os atos de “escracho” e se inspiraram em ações semelhantes que aconteceram na Argentina e no Chile. Eles levam cartazes com imagens dos militares e de vítimas, com base em informações de processos conduzidos pelo Ministério Público Federal, livros da época e relatos de familiares de opositores do regime. "Eram jovens como muitos de nós que você torturou e assassinou nos porões da ditadura milita, vamos ficar atrás de você e cobrar a verdade. Que seja feita justiça com a sua condenação" – gritavam os manifestantes. O ato reuniu cerca de 200 manifestantes e pessoalmente achei muito legal esses jovens se importarem e irem em busca de uma punição para essas pessoas.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Vídeo

Esse vídeo é interessante. Mostra um homem que foi torturado na época da ditadura militar, ele foi vítima de afogamento e de várias outras torturas seguidas.
Link: http://www.youtube.com/watch?v=itCbMSezTus

BRASIL: NUNCA MAIS

A seguir, irei escrever um trecho do livro Brasil: nunca mais, em que o autor denunciou os crimes praticados por integrantes dos órgãos de segurança a serviço dos governos militares:

 Diz o artigo 5º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada pelo Brasil, que " ninguém será submetido à tortura ou castigo cruel, desumano ou degradante".
 Em 20 anos de regime militar, esse princípio foi ignorado pelas autoridades brasileiras. A pesquisa do projeto " Brasil: nunca mais" (1964-1979) mostrou quase uma centena de modos diferentes de tortura mediante agressão física, pressão psicológica e utilização dos mais variados instrumentos, aplicados aos presos políticos brasileiros. Instrumentos de tortura como o "pau de arara", o choque elétrico, o " afogamento", a "geladeira", a " cadeira do dragão", o uso de produtos químicos etc.
 Durante a ditadura militar, a tortura foi utilizada em pessoas de todas as idades, sexo ou situação física psicológica. Assim, crianças foram sacrificadas diante dos pais, mulheres grávidas tiveram seus filhos abortados, esposas sofreram para incriminar seus maridos.
 O emprego da tortura foi peça essencial da engrenagem repressiva posta em movimento pelo regime militar que se implantou em 1964.

sábado, 29 de setembro de 2012

Video.

Achei um video de um ex-torturado pela Ditadura, em uma visita ao Museu da Liberdade em São Paulo. 

Monumento Tortura Nunca Mais.

O Monumento Tortura Nunca Mais é um monumento localizado na Praça Padre Henrique na cidade do Recife, Pernambuco. Foi o primeiro monumento construído no país em homenagem aos mortos e desaparecidos políticos brasileiros.
Sua construção foi decorrente de um concurso público realizado pela prefeitura do Recife em 1988, que previa não só a construção de um monumento que emblemasse as condições de tortura  e desrespeito a dignidade da pessoa humana as quais a população esteve sujeita durante o regime militar, como toda a revitalização do local.
Foi inaugurado em 27/08/1993.


Ditadura e Tortura.

O Brasil vivenciou de 1964 a 1985 o Regime Militar, grande parte do qual caracterizado por ser um "regime de exceção". Instalado pela força das armas, o regime derrubou um presidente civil e interveio na sociedade civil. Usou de instrumentos jurídicos intitulados "atos institucionais", através dos quais procurou-se legalizar e legitimar o novo regime. A sombra mais negra veio com a prática disseminada da tortura, utilizada como instrumento político pra arrancar informações e confissões de estudantes, jornalistas, políticos, advogados, cidadãos, enfim, todos que ousavam discordar do regime de força então vigente. A praga a ser vencida, na ótica dos militares, era o comunismo, e subversivos seriam todos os que ousassem discordar. Foi mais intensamente aplicada de 1968 a 1973, sem deixar de estar presentes em outros momentos.
A ditadura não inventou a tortura, mas exacerbou-a. E adotou essa prática de modo intenso, aprimorando os mecanismos já utilizados nos períodos anteriores a sua instalação.
Com a redemocratização, consagrada na Constituição de 1988, como seu documento político, o povo brasileiro cuidou de explicitar como desejaria a ver organizado em um Estado Democrático de Direito. Por isso se tem uma Constituição onde os direitos e garantias fundamentais principiam o texto constitucional, e são detalhados e extensos: pra serem conhecidos, pra serem garantidos e pra serem respeitados.
Hoje não se fala mais em prática de tortura por delitos de opinião, ou crimes políticos. Mas a tortura vem sendo permanentemente denunciada como sendo prática ainda utilizada em larga escala pelas polícias militares e civis, em situações corriqueiras de fatos do cotidiano.

sábado, 1 de setembro de 2012

Golpe Civil Militar.

Como vimos nas aulas de História, o golpe dos militares sobre o presidente Jango ficou conhecido como Golpe Civil Militar, porque envolveu grande número da população, igreja e claro, os militares.
A princípio o golpe foi visto como uma coisa boa, mas depois a coisa piorou, e piorou bastante.
Houve muitas torturas nos "anos de chumbo". As torturas começaram no ano de 1968, o início do período mais duro do regime militar. As torturas eram usadas na maioria das vezes pra tirar informações das pessoas envolvidas com a luta armada.
Entre as torturas, fiz uma lista com as mais conhecidas.

Arquitetura da dor: Torturadores abusavam de choques, porradas e drogas pra conseguir informações.

Cadeira do dragão: Era uma espécie de cadeira elétrica, os presos sentavam pelados numa cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos. Quando o aparelho era ligado, o zinco transmitia choques por todo o corpo.

Pau-de-arara: Uma barra de ferro era atravessada entre os punhos e os joelhos, o preso ficava pelado, amarrado e pendurado. Essa posição causa dores atrozes no corpo, e os presos ainda sofriam com choques e queimaduras de cigarro.

Choques elétricos: As máquinas usadas geravam choques que aumentavam quando a manivela era girada rapidamente pelo torturador. A descarga elétrica causava queimaduras e convulsões.

Espancamentos: Vários tipos de agressões físicas eram combinadas a outras formas de tortura. Uma das mais cruéis era o "telefone". Esse golpe podia deixar a pessoa surda.

Soro da verdade:  O soro era uma droga injetável que provocava na vítima um estado de sonolência e reduzia as barreiras inibitórias, com isso a pessoa poderia contar o que normalmente não contaria.

Afogamentos: Os torturadores fechavam as narinas do preso e colocavam uma mangueira dentro da boca do acusado pra obrigá-lo a engolir água. Outro método era afundar a cabeça do preso em tanques ou baldes com água.

Geladeira: Os presos ficavam numa cela pequena em que não conseguiam ficar de pé. Depois os torturadores alternavam um sistema de refrigeração super frio e um sistema de aquecimento que produzia um calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam barulhos irritantes. Os presos ficavam na geladeira por dias, sem água e comida.

E vale a pena lembrar que ninguém acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar chegou a ser punido. E em 1979 o Congresso aprovou a Lei da Anistia, que determinou que todos os envolvidos em crimes políticos, inclusive os torturadores, fossem perdoados pela justiça.